Publicado em:
21/12/2023
A obesidade se tornou uma epidemia mundial. Estimativas dizem que até 50% da população mundial apresenta sobrepeso ou obesidade. Embora muitas pessoas não saibam (e até não concordem), a obesidade é classificada como uma doença crônica e, portanto, exige tratamento de longo prazo.
Embora muitos iniciem um processo de emagrecimento e obtenham sucesso no curto prazo, grande parte dos pacientes acaba evoluindo com reganho de peso no médio e longo prazo.
A reeducação alimentar e outras mudanças do estilo de vida são objetivos indispensáveis na jornada por uma vida mais saudável nesses pacientes, porém, o uso de medicação se faz necessário em muitos casos, tanto com o objetivo de perda de peso quanto para evitar ou tratar comorbidades.
Quem nunca ouviu (ou mesmo disse) a frase: “Tomei remédio e emagreci. Mas quando parei, engordei tudo de novo”. Sim, isso é um fato que só corrobora com o quanto uma medicação bem indicada pode ser efetiva no tratamento da obesidade.
Muitas medicações têm sido desenvolvidas nos últimos anos e com resultados realmente significativos. No entanto, como toda medicação para doença crônica, é importante salientar que seus efeitos só ocorrem enquanto você estiver em uso. O conceito de “remédio para emagrecer” precisa ser abandonado e substituído pelo conceito de “remédio para tratamento da obesidade”. Dessa forma, o uso de forma contínua pode ser uma realidade para muitas pessoas ( e ainda bem que hoje temos medicações seguras com as quais podemos contar).
As medicações aprovadas para uso no Brasil que apresentam os melhores resultados são o Saxenda (liraglutida) e o Ozempic (semaglutida), ambas de aplicação subcutânea.
Enquanto usando Saxenda 63% dos pacientes perderam mais que 5% do peso corporal, e 33,1% mais que 10% do peso corporal no período de 12 meses, utilizando Ozempic observou-se uma perda média de 14,9% no mesmo período. Para se ter ideia do avanço, medicações mais antigas atingem em torno de 5% de perda de peso.
Um dos maiores limitantes para a difusão do uso do Ozempic em pacientes com indicação clínica é o seu alto custo. Enquanto a dose máxima recomendada para o tratamento do diabetes é de 1 mg, para o tratamento da obesidade a dose preconizada é 2,4 x maior.
Devido ao preço e possíveis efeitos colaterais, grande parte dos pacientes não atinge a dose recomendada, o que ocasiona resultados inferiores aos descritos na literatura. Além disso, o efeito da medicação se dá através da perda de apetite, o que faz com que as pessoas comam menos e que não necessariamente comam melhor. Dessa forma, embora na balança e nas roupas elas notem a diferença, nem sempre esses resultados se refletem em um metabolismo mais saudável.
Um dos fenômenos que tem acontecido recentemente é a falta de Ozempic nas farmácias. Por ser uma medicação que não necessita de prescrição médica para ser comercializada, muitas pessoas acabam se automedicando, o que fez com que ele sumisse das prateleiras.
Esse fato é preocupante, não somente por prejudicar os pacientes que realmente tem indicação clínica, mas também pelo risco que essas pessoas têm de complicações decorrentes do seu uso sem supervisão. Uma perda de peso não monitorada e não acompanhada de reeducação alimentar e mudança de estilo de vida acarreta em perda de massa muscular, sendo um atalho cujo ponto final já é bem conhecido: reganho de peso muitas vezes superior ao peso inicial.
Uma das promessas para os próximos meses é a chegada no Wegovy. O Wegovy contém o mesmo princípio ativo do Ozempic, a semaglutida. A única diferença é que a caneta do Wegovy já virá preparada para a dosagem preconizada para o tratamento da obesidade, que é de 2,4 mg. A caneta do Ozempic apresenta uma dose máxima de 1 mg, sendo que para atingir 2,4 mg o paciente precisa usar 2,4 doses.
Muito tem se falado sobre o lançamento de uma nova droga, o Mounjaro (tirzepartida).
Enquanto que o Ozempic e o Saxenda são medicações conhecidas como análogos de GLP-1 por mimetizarem um hormônio que atua em áreas do cérebro humano importantes para a regulação do apetite, a tirzepatida atua não somente dessa forma mas também como análoga de GIP, uma outra molécula que também tem ação no controle da fome e saciedade no nosso sistema nervoso central. Assim como o Ozempic, ele também é de uso subcutâneo semanal.
Os resultados com o uso da tirzepatida são muito animadores e superiores a todas as medicações já em uso para o tratamento da obesidade. Com uma análise de 2.539 participantes adultos não diabéticos durante um ano e meio, a média de perda foi de 15% do peso, mas alcançou até 20,9% entre os voluntários que receberam doses maiores. Neste último grupo, a diferença representou até 23,6 kg a menos.
Os efeitos colaterais mais esperados são semelhantes aos demais medicamentos com mecanismo de ação semelhante (Saxenda e Ozempic) que incluem náuseas e alterações do hábito intestinal.