Publicado em:
20/9/2023
Vinagre de maçã, shot matinal, cúrcuma, soro, vitaminas, manipulados e os mais diversos tipos de suplementos… Não raro surge alguma tendência de um pequeno ritual que promete trazer resultados avassaladores na perda de peso e bem-estar. Imagino que você já deve ter ouvido falar de algum, certo?
Embora alguns destes listados tenham suas propriedades para o organismo, é raro o consumo isolado de uma substância trazer algum efeito sem os pilares estruturais de um estilo de vida saudável - a saber, uma alimentação balanceada, rotina de atividade física, sono reparador, manejo de estresse, limitação no uso de tóxicos e relacionamentos saudáveis. Muitas vezes, a eficácia de tais substâncias não é comprovada, com seus resultados nos desfechos não ultrapassando o efeito placebo.
Historicamente, somos acostumados a encarar o efeito placebo como algo irrelevante, a comparação a partir da qual vemos se uma nova droga funciona ou não. Mas raramente se direciona o olhar para entender melhor sobre este efeito em si: qual é seu tamanho, o que o influencia, que benefícios ele traz e, o mais importante - como usá-lo a nosso favor?
O efeito placebo diz respeito ao poder das nossas crenças, mentalidades e expectativas sobre o nosso corpo. E isso não é mágica, mistério ou superstição - é ciência. Nossas expectativas em diversos domínios da saúde geram uma variação na resposta neurobiológica do corpo. Tomar pílulas de açúcar podem gerar uma melhora real em uma condição, o medo dos efeitos colaterais de um medicamento aumenta a probabilidade de ocorrerem e há relatos de cirurgias falsas com impactos observados.
Em um estudo liderado pela pesquisadora de Stanford Alia Crum, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos, e submetidos a uma injeção de histamina, substância que provoca uma reação alérgica. Buscou-se avaliar a eficácia de um creme placebo na reação provocada. Para o primeiro grupo, a médica informava que o creme iria aliviar os sintomas da reação. Já para o segundo, dizia que o creme iria piorar o estado. A reação de fato foi pior no segundo grupo. As crenças sobre a pomada não eram irrelevantes, mas sistematicamente determinaram uma resposta fisiológica do corpo.
Os pesquisadores foram além, e exploraram também sob quais condições essa resposta ocorre, variando o contexto social. Em um cenário, a mensagem era passada por uma médica empática e competente. No outro, a mesma pessoa fazia as vezes de uma médica distante e desorganizada. A boa profissional foi capaz de provocar os efeitos placebos, enquanto na condição da má profissional, não se observou o efeito. Nossas crenças sobre algo são produto do meio social inserido.
Pois o mesmo grupo de pesquisadores buscou investigar o impacto do consumo de um Milkshake no corpo. A bebida tinha uma certa composição nutricional, mas foi comunicada de forma diferente para dois grupos de participantes: para o primeiro, foi enquadrada como um shake fit de baixa caloria; para o segundo, como a “indulgência merecida”, alto em açúcar, gorduras e calorias. O resultado: a resposta fisiológica do corpo (a liberação de grelina) variava de acordo com a mensagem exposta.
Em linha, foi o que se viu em estudos com camareiras de hotel quando informadas dos benefícios da atividade física regular vs. que o trabalho delas já funcionava para cumprir esta recomendação de atividade física, e com altos executivos sobre o estresse ser algo prejudicial e nocivo vs. ter um lado positivo. O impacto do que fazemos no nosso corpo é informado, em partes, pelas expectativas que temos sobre. Isso não é um papo furado sobre energias do universo ou pensamento positivo, mas vale lembrar que o nosso corpo é regulado pelo nosso cérebro e, em certa instância, isto tem um efeito que em geral não encaramos.
Portanto, longe de questionar o seu shot matinal ou vinagre de maçã, o que buscamos neste texto é debater as expectativas quanto aos seus usos, e direcionarmos-nas de forma mais apropriada. Estes pequenos rituais, além de potencialmente trazerem o efeito placebo, podem ter o papel de ser uma primeira pequena decisão do dia na direção de melhores escolhas, sendo um hábito que puxa os seguintes, além de possivelmente aumentar a sensação de autoeficácia (o quanto confiamos na nossa capacidade de fazer algo, como ter um dia saudável) por ter cumprido uma pequena coisa.
Portanto, com a ressalva de evitar charlatanismos que impactam o bolso por enganações e desinformações de terceiro, ou práticas que podem ser comprovadamente prejudiciais para a saúde, e lembrando de que, para além das expectativas, tem um grande chão de mudanças reais a serem percorridas, o que fica é aquele ditado: se faz bem, que mal tem?
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