Publicado em:
19/7/2023
O termo "brain fog" (que poderia ser traduzido como uma “névoa mental”) é usado para descrever sintomas como falta de concentração, clareza de raciocínio, perda de memória e sensação de cansaço mental. Vários fatores podem contribuir para o “brain fog”, incluindo a falta de sono ou exercício, depressão, mudanças hormonais, medicamentos e má saúde metabólica, decorrente de uma alimentação inadequada.
Você já teve dias em que sentiu a cabeça atordoada ou um pouco confusa ? Todos nós já passamos por isso - digamos, depois de beber álcool demais ou ter uma noite terrível de sono. Se você está sentindo que te falta claridade mental e não consegue identificar uma causa provável, pode ser que você esteja sofrendo do que é comumente chamado de “brain fog” (que pode ser traduzido como “névoa mental”) e a má saúde metabólica pode ser parte do problema.
Pesquisas mostram que a disfunção metabólica e um comportamento anormal da glicemia afetam a cognição e podem até mesmo modificar a anatomia do cérebro, incluindo áreas-chave que controlam a memória, a atenção e o pensamento, alterações bastante comuns em pacientes com diabetes, por exemplo.
No entanto, hoje há indícios de que grandes oscilações no níveis de açúcar no sangue - mesmo em pessoas sem diabetes - frequentemente estão associados a sintomas como lapsos de memória, falta de atenção, baixa produtividade e dificuldade em pensar claramente - reclamações comuns que se enquadram na categoria de “brain fog”."
O que é o “Brain Fog”?
Embora não seja exatamente um diagnóstico médico e nem seja totalmente compreendido, muitos profissionais usam o termo "brain fog" quando ouvem pacientes reclamando de distração ou de não se sentirem tão alertas quanto o habitual.
O “brain fog” pode ser um precursor de problemas cerebrais mais graves ou um sinal precoce de neurodegeneração, e é subdiagnosticado tanto por profissionais de saúde quanto por pacientes, que muitas vezes pensam que os sintomas podem ser apenas sinais de cansaço ou envelhecimento.
Em outras palavras, o “brain fog” pode ser uma condição temporária causada por algo agudo, como falta de sono ou medicamentos, ou pode ser o início de um declínio cognitivo mais sério, decorrente da presença de outros agressores crônicos, incluindo um estilo de vida não saudável e uma alimentação desbalanceada.
Como o “brain fog” se manifesta
O “brain fog” pode se manifestar na vida das pessoas de várias maneiras:
- Perda de clareza mental ou fadiga mental - como se você não estivesse totalmente presente - especialmente à medida que o dia avança.
- Baixa energia ou fadiga, como se estivesse andando em câmera lenta.
- Dificuldade em se exercitar ou fadiga após o exercício.
- Baixa resposta à cafeína como estimulante, fazendo com que você consuma mais do que o habitual.
- Dificuldade em priorizar, gerenciar tarefas ou fazer várias coisas ao mesmo tempo, ou concluir listas de afazeres, incluindo problemas com números.
- Pensamento lento ou velocidade de processamento mental reduzida, ou nebulosidade no processo de pensamento, como se seus pensamentos estivessem dispersos ou confusos.
- Problemas com fluência verbal, como se as palavras estivessem em sua mente, mas você não consegue alcançá-las.
- Irritabilidade, instabilidade de humor ou leve depressão.
- Baixa motivação ou sensação de desesperança, ansiedade, medo ou confusão.
- Esquecimento e dificuldade em reter informações.
- Agravamento dos sinais de “brain fog” quando você é submetido ao estresse de forma crônica, com evolução para o que alguns denominam “demência do estresse”.
Um metabolismo saudável pode evitar o declínio cognitivo?
Pesquisas recentes sugerem que o Alzheimer e a demência estão ligados ao processamento de insulina e glicose no cérebro, porém mesmo pessoas mais jovens ou sem o quadro de demência podem experimentar sintomas de “brain fog” que estão diretamente conectados a uma alimentação ruim e estilo de vida não saudável.
A glicose desempenha um papel essencial na função diária do seu cérebro e tem efeitos de longo prazo na saúde cognitiva. O cérebro consome cerca de 20% da glicose do corpo para sustentar atividades de alta energia envolvidas na cognição e na regulação de todos os processos do corpo, sendo que a barreira hematoencefálica, que controla o fluxo de nutrientes para dentro e para fora do cérebro, é projetada para absorver a glicose por meio de um transportador de glicose, a isoforma GluT1.
A GluT1 permite a absorção constante de glicose, mesmo quando os níveis de açúcar no corpo estão baixos. Como o cérebro não pode sintetizar e armazenar energia da mesma forma que órgãos como o fígado ou os músculos, a ingestão de alimentos é sua principal fonte de energia, isso faz com que seu cérebro deixe de funcionar em sua plenitude caso você não se alimente bem.
Embora a glicose seja vital para a função cerebral, níveis excessivos de glicose no sangue podem ser problemáticos. Pesquisas demonstram que a hiperglicemia induzida em laboratório leva a uma diminuição na capacidade das células cerebrais de absorver glicose (embora os autores do estudo observem que essa premissa é "controversa").Isso porque quando os níveis de glicose no sangue estão altos, o nível de GluT1 diminui, reduzindo assim a absorção.Esse fenômeno pode ter efeitos agudos e crônicos, incluindo diminuição da produção de energia no cérebro, o que pode levar ao “brain fog” imediato , e aumento do estresse oxidativo, que contribui ao longo do tempo para danos ou morte celular e eventual declínio cognitivo. Ainda é desconhecido por que a hiperglicemia diminui a GluT1 e quais são as consequências dessa desregulação a longo prazo.
A glicose também pode afetar partes críticas da anatomia do cérebro. Por exemplo, a intolerância à glicose está associada à redução do hipocampo em pessoas sem diabetes. Mudanças no hipocampo, estrutura responsável pela regulação emocional e consolidação da memória, podem levar a deficiências na memória episódica, uma característica comum do “brain fog”l.
Os efeitos cognitivos da má saúde metabólica têm sido observados em diversos estudos em pessoas com e sem diabetes. Aqueles pacientes com evidências de resistência à insulina, mas ainda não diagnosticados com diabetes, tiveram pior desempenho em testes de função cognitiva, de acordo com um estudo de 2009 que analisou o uso de habilidades cognitivas de alto nível para coordenar comportamento e recursos a fim de atingir um objetivo.
Alimentação, microbiota intestinal e eixo intestino-cérebro
O corpo humano abriga uma enorme quantidade e diversidade de bactérias que vivem no intestino e desempenham diversas funções além de auxiliar na digestão, cujo conjunto é frequentemente denominado como microbiota intestinal. A perturbação dessa microbiota(também conhecida como disbiose) no intestino pode causar problemas cognitivos.
Isso ocorre por causa de algo chamado eixo intestino-cérebro. Esse eixo pode ser entendido como uma via de mão dupla entre os sistemas nervoso central e intestinal, que conecta os centros emocionais e cognitivos do cérebro às funções intestinais periféricas.
Quando a microbiota intestinal está "desregulada", isso pode influenciar negativamente essa via de comunicação. Fatores que contribuem para a disbiose intestinal incluem escolhas alimentares inadequadas, algumas doenças, uso recente de antibióticos e mesmo o estresse físico ou psicológico.
Uma alimentação balanceada, centrada no consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, evitando produtos ultraprocessados, excesso de carboidrato livre e açúcares, bem como adequando as quantidades de fibras e proteínas ao longo do dia tem efeitos benéficos na cognição como um todo. Alimentos ricos em gorduras poli-insaturadas e ômega 3 também tem um potencial antioxidante e anti-inflamatório que colaboram para uma melhor saúde metabólica.
Fontes:
Ayonrinde OA. 'Brain fag': a syndrome associated with 'overstudy' and mental exhaustion in 19th century Britain. Int Rev Psychiatry. 2020 Aug-Sep;32(5-6):520-535. doi: 10.1080/09540261.2020.1775428. Epub 2020 Jun 26. PMID: 32589474.
H. Bruehl, V. Sweat, J. Hassenstab, V. Polyakov & A. Convit (2010) Cognitive impairment in nondiabetic middle-aged and older adults is associated with insulin resistance, Journal of Clinical and Experimental Neuropsychology, 32:5, 487-493.
Li G, Luo Y, Zhang Z, Xu Y, Jiao W, Jiang Y, Huang S, Wang C. Effects of Mental Fatigue on Small-World Brain Functional Network Organization. Neural Plast. 2019 Dec 6;2019:1716074. doi: 10.1155/2019/1716074. PMID: 31885535; PMCID: PMC6918937.
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